Estou, nesta noite cálida, deliciadamente estendido sobre a relva,
de olhos postos no céu, e reparo, com alegria,
que as dimensões do infinito não me perturbam.
(O infinito!
Essa incomensurável distância de meio metro
que vai desde o meu cérebro aos dedos com que escrevo!)
O que me perturba é que o todo possa caber na parte,
que o tridimensional caiba no dimensional, e não o esgote.
O que me perturba é que tudo caiba dentro de mim,
de mim, pobre de mim, que sou parte do todo.
E em mim continuaria a caber se me cortassem braços e pernas
porque eu não sou braço nem sou perna.
Se eu tivesse a memória das pedras
que logo entram em queda assim que se largam no espaço
sem que nunca nenhuma se tivesse esquecido de cair;
se eu tivesse a memória da luz
que mal começa, na sua origem, logo se propaga,
sem que nenhuma se esquecesse de propagar;
os meus olhos reviveriam os dinossáurios que caminharam sobre a Terra,
os meus ouvidos lembrar-se-iam dos rugidos dos oceanos que engoliram
continentes,
a minha pele lembrar-se-ia da temperatura das geleiras que galgaram sobre a
Terra.
Mas não esqueci tudo.
Guardei a memória da treva, do medo espavorido
do homem da caverna
que me fazia gritar quando era menino e me apagavam a luz;
guardei a memória da fome;
da fome de todos os bichos de todas as eras,
que me fez estender os lábios sôfregos para mamar quando cheguei ao mundo;
guardei a memória do amor,
dessa segunda fome de todos os bichos de todas as eras,
que me fez desejar a mulher do próximo e do distante;
guardei a memória do infinito,
daquele tempo sem tempo, origem de todos os tempos,
em que assisti, disperso, fragmentado, pulverizado,
à formação do Universo.
Tudo se passou defronte de partes de mim.
E aqui estou eu feito carne para o demonstrar,
porque os átomos da minha carne não foram fabricados de propósito para mim.
Já cá estavam.
Estão.
E estarão.
António Gedeão, in 'Poemas Póstumos'
27 de setembro de 2011
22 de setembro de 2011
15 de setembro de 2011
Workshop IES + Susana António no Museu do Côa
No passado sábado, dia 10 de Setembro, o IES (Insituto de Empreedorismo Social) e a Susana António, por parte da Gulbelkian, vieram ao Museu do Côa desenvolver um Workshop sobre Modelo de Negócio Social, Avaliação de Resultados e Medição de Impacto. Para além do Arquivo de Memória, estavam também presentes outros projectos ao abrigo do Programa de Desenvolvimento Humano "Entre Gerações", da Fundação Calouste Gulbelkian. Mais uma vez foi um dia em que se discutiram ideias e se adquiriram ferramentas para um futuro sólido e sustentável do nosso projecto. Obrigado a todos que estiveram por cá e um agradecimento ao Museu do Côa por nos ter cedido um espaço tão bonito e inspirador.
12 de setembro de 2011
Frase do dia - de Marquês de Maricá
A memória dos velhos é menos pronta, porque o seu arquivo é mais extenso.
7 de setembro de 2011
1 de setembro de 2011
"Intacta Memória", de Sophia de Mello Breyner
Intacta memória - se eu chamasse
Uma por uma as coisas que adorei
Talvez que a minha vida regressasse
Vencida pelo amor com que a lembrei.
Uma por uma as coisas que adorei
Talvez que a minha vida regressasse
Vencida pelo amor com que a lembrei.
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